Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Os letreiros a te
colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Já te vejo brincando,
gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
“As
Vitrines” me transmite de maneira imediata uma súplica, um misto de carência e
insegurança. Há tanto o que descobrir, e principalmente imaginar, nesta música,
que não tive dúvida na escolha para a estreia do blog.
Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Te avisei que a cidade era um vão
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Na primeira estrofe é narrada
uma tentativa desesperada, e sem sucesso, de manter o objeto de desejo, a
mulher, perto de si. Ao vê-la “ganhar o mundo”, o sujeito faz uma advertência
do desconhecido: “Te avisei que a cidade
era um vão”. Mas fica claro que ele não teme pela mulher e sim por si
mesmo. Teme perde-la.
Mesmo
com a advertência, ela vai. Ele tenta conte-la de uma maneira física: “Dá tua mão”, sem êxito. Apela por um
contato visual: “Olha pra mim”, sem
êxito. Por fim se desespera e implora: “Não
faz assim, Não vai lá não”.
Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
A segunda estrofe já se passa
na cidade e, apesar de temer o desconhecido, o sujeito segue a mulher. E lá, um
ambiente notadamente familiar para mulher, o deixa atordoado: “Os letreiros a te colorir, Embaraçam a minha
visão”. Nem mesmo as emoções vividas no cinema são compreendidas pelo
sujeito, que não entende como a amada pode ser leve e descontraída, quando há
poucos minutos estava tensa e aflita, por conta do filme.
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Tua sombra a se multiplicar
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Na terceira estrofe duas coisas
ficam muito claras pra mim. A primeira é que ela se sente completamente à
vontade no ambiente da cidade, iluminado, multiplicando suas sombras. A segunda
é que fica mais do que evidente que ele só tem olhos pra ela: “Nos teus olhos também posso ver. As vitrines
te vendo passar”. É através dos seus olhos que ele vê o que está ao redor,
e mais, ele acha que ela é o centro de tudo, não apenas para ele, pois, na sua
cabeça, não é a mulher que estar a olhar as vitrines, as vitrines é que a vêm
desfilar.
Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Na
última estrofe o sujeito mostra como está incomodado com tudo aquilo, que
parece não ter mais fim: “Na galeria, cada clarão, É como um dia, depois de outro dia”. Ele reconhece, de maneira cara
e inequívoca, a total falta de atenção dela para com ele e, ao mesmo tempo, a
total atenção dele para com ela, num pequeno verso que tem um significado
singular: “Passas sem ver teu vigia”.
Por
fim, ele é obrigado a ficar com restos, com a sobra, com pequenas coisas, ou
ações, que o seu objeto de desejo lhe propicia sem ao menos notar e que, para
ele, são um prêmio, é poesia.
Mas
ainda não é tudo. No encarte do LP Almanaque, o qual traz a música As Vitrines,
há uma brincadeira com espelhamento e rebatimento da letra, como pode ser visto
na imagem acima. Para que possamos ler as quatro letras é preciso lançarmos
mão de espelho e rotações.
Quando
por fim a lemos, de frete para o espelho, nota-se que apenas a primeira estrofe
é igual a da música original, sendo as outras três diferentes. Abaixo a letra transversa para comparação.
Eu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
-Dá tua mão
-Olha pra mim
-Não faz assim
-Não vai lá não
Te avisei que a cidade era um vão
-Dá tua mão
-Olha pra mim
-Não faz assim
-Não vai lá não
Ler os letreiros aí troco
Embaçam a visão marinha
Vi tuas fúrias e predileção
Errar sisuda, sã fora de eixos
Embaçam a visão marinha
Vi tuas fúrias e predileção
Errar sisuda, sã fora de eixos
Doce vento, grandes beijos do jantar
Um militar saber tuas polcas
Bem postos meus versos antolhos
Patinavas, sorvetes, diners
Um militar saber tuas polcas
Bem postos meus versos antolhos
Patinavas, sorvetes, diners
Na alegria, a cara do clã
Um doutor doido me cedia poesia
Um absalão rindo
Pião, sexo, asa, espaço
És súpita virgem avessa
A asteca do piano
Quão sonha no center
Um doutor doido me cedia poesia
Um absalão rindo
Pião, sexo, asa, espaço
És súpita virgem avessa
A asteca do piano
Quão sonha no center
Um anagrama! É exatamente isso o que vemos. Cada verso corresponde ao seu verso de origem, exatamente com as mesmas letras, nenhuma a mais, nenhuma a menos. Essa letra alternativa jamais foi gravada, por ninguém, e também seria tolice tentar encontrar sentido em cada estrofe, já que não foi de criação livre.
O
sentido está na criação do anagrama. O link está lá, explicito no final da
letra original: “Catando a poesia, Que
entornas no chão”. É isso que a mulher representa para o sujeito, é assim que ele a vê, em uma realidade distorcida, onde muitas coisas não fazem
sentido, onde as vezes é preciso um conhecimento sobrehumano para entende-la.
Finalmente
aí um link com a vida de cada um, pois, em proporções que variam de pessoa a
pessoa, qual de nós, sujeitos, não tem dificuldade para entender a amada em
certos momentos?
Sou a primeira a comentar??? Obaaa!!!!
ResponderExcluirAmeeeei, Alan!
Já ta nos favoritos!
Ela imatura e ingênua, mal sabe o rastro de sofrimento que deixa.
ResponderExcluirDeslumbrada com as luzes da cidade vai deixando tudo pra trás.
Mas, realmente não dá pra saber se é amor de pai, ou de amante.
Me lembrou "tu pisavas os astros, distraída..."
Ela imatura e ingênua, mal sabe o rastro de sofrimento que deixa.
ResponderExcluirDeslumbrada com as luzes da cidade vai deixando tudo pra trás.
Mas, realmente não dá pra saber se é amor de pai, ou de amante.
Me lembrou "tu pisavas os astros, distraída..."
Ela imatura e ingênua, mal sabe o rastro de sofrimento que deixa.
ResponderExcluirDeslumbrada com as luzes da cidade vai deixando tudo pra trás.
Mas, realmente não dá pra saber se é amor de pai, ou de amante.
Me lembrou "tu pisavas os astros, distraída..."
Legal, gostaria de apresentar minha versão.
ResponderExcluirEu te vejo sair por aí
Te avisei que a cidade era um vão
Como em toda letra, ele a esta vigiando, espreitando, acompanhando os passos dela.
Ele só a conheceu pelo tempo de dizer “Te avisei que a cidade era um vão”.
- Dá tua mão
- Olha pra mim
- Não faz assim
- Não vai lá não
Ele não fala para ela, fala para si próprio. Verbaliza o que ele queria que acontecesse, “dá tua mão, olha pra mim, não faz assim, não vai lá não”.
Desejo explícito de que ela o note, perceba que ele está ali, ou até, que se se lembre dele.
Os letreiros a te colorir
Embaraçam a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir
Ela é, na verdade, uma prostituta, trabalha na noite letreiros coloridos que embaraçam a visão.
Sessão é um programa, aflita nos primeiros programas frouxa de rir depois.
Já te vejo brincando, gostando de ser
Tua sombra a se multiplicar
Ela se acostuma àquela vida, passa a gostar. Sombras multiplicadas indicam várias personalidades que ela assume, ela não é mais uma só pessoa, ela não tem mais uma só identidade.
Nos teus olhos também posso ver
As vitrines te vendo passar
Vitrines refletem quem passa por elas. Ela olha e admira o que vê, o próprio reflexo. Ele observa os olhos dela refletido nas vitrines e através desse jogo de reflexos é como se ele pudesse observar as vitrines a vendo passar. Ela é também uma vitrine.
Na galeria, cada clarão
É como um dia depois de outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Clarão, breve momento de lucidez, se sobrepõe a outro como um dia depois de outro dia e ela continua lá. Ele “abrindo o salão”, novamente a espreita, novamente vigiando.
Passas sem ver teu vigia
Catando a poesia
Que entornas no chão
Ela não o nota, mas, ele continua como sempre sem dizer nada e sem chegar perto.
A rara beleza desperdiçada, poesia entornada ao chão. Ele tentando reconstruí-la, “catando a poesia que entornas no chão”.
Fantástica explicação. Faz todo o sentido, nunca vi ninguém falar isto antes. Genial!
ExcluirPerfeito! Não me canso de admirar esse verso: "... passas sem ver teu vigia catando a poesia que entornas no chão".. Vai ser poenta assim!......
ResponderExcluirParece comigo...e talvez,com tantos outros!
ResponderExcluireu acredito que a musica trate da preocupação de um pai ou responsável, com o crescimento/independência de seu primogênito.. o Trecho "sua sombra a se multiplicar" dá idéia de alguém pequeno que está aumentando de tamanho
ResponderExcluirEu prefiro não todas as versões. A verdade é que são versos, pra um mortal comum como eu, impossíveis de ser escritos. Mas foram. É desumano o sentimento de perplexidade diante desses versos. Eu vou para o piano e os canto por horas, sem cansar.
ResponderExcluirPreciso corrigir a primeira frase: "eu prefiro todas as versões".
ResponderExcluirAdorei a explicação do eu lirico.
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